Slide 222 076 620 917 562 454 geral@sinapsa.pt Área Reservada Olá, 
Logo SINAPSA Horizontal Cor_2023Logo SINAPSA Horizontal Cor_2023Logo SINAPSA Horizontal Cor_2023Logo SINAPSA Horizontal Cor_2023
  • QUEM SOMOS
    • Sobre o SINAPSA
    • Órgãos Sociais
      • Mesa da Assembleia Geral
      • Direção
      • Conselho Fiscalizador
    • Estrutura Sindical
      • Delegados Sindicais
      • Organização Regional
      • Organização de Reformados
    • Estatutos
      • Estatutos
      • Publicação BTE
    • História
  • INFORMAÇÃO
    • Comunicação Sindical
    • Notícias | Eventos
    • Cultura e tempos livres
  • DIREITOS
    • Código do Trabalho
    • Legislação Laboral
    • Guias Práticos
      • Direitos de Parentalidade
      • Igualdade entre Homens e Mulheres
      • Intervir e Combater o Assédio no Trabalho
      • Combater as Doenças Profissionais
    • Apoio Jurídico
    • Apoio Social
  • CONTRATAÇÃO COLETIVA
  • PROTOCOLOS
  • CONTACTOS
SINDICALIZA-TE!
✕
Suplemento Extraordinário de Pensões
Agosto 6, 2025
“Trabalho XXI”: roteiro para um precário abdicante
Agosto 7, 2025
Publicado por SINAPSA em Agosto 7, 2025
Categorias
  • Notícias e Eventos
Tags
Na profusão de reformas laborais que marcam ciclicamente a política portuguesa, a proposta recente do Governo, intitulada Trabalho XXI, destaca-se por dois motivos: a profundidade dos ataques e a habilidade com que os disfarça.
Apresentada sob a promessa de “flexibilizar para valorizar e crescer”, esta revisão profunda da lei laboral apresenta-se, atrás de uma fachada de racionalização técnica, como um claro projecto de desestruturação dos direitos individuais e colectivos de quem trabalha. E fá-lo com um método já testado: amplificar o debate em torno de um subconjunto de medidas – neste caso, as que envolvem mães, pais e direitos parentais – para ofuscar o âmago da transformação.
O mais desconcertante é ver partidos a encenar indignações selectivas da nova proposta, quando pactuam quotidiana e estruturalmente com os fundamentos que a sustentam: um ataque aos trabalhadores disfarçado de flexibilização e modernização.
As alterações ao regime de amamentação, ao direito ao horário flexível ou à licença do pai, bem como a revogação do direito das mulheres à licença por luto gestacional, todas profundamente lesivas para as famílias e mulheres trabalhadoras, tornaram-se a face mais visível desta proposta laboral. Com razão: são ataques reais, brutais, e só o cinismo da tecnocracia os conseguiria apresentar como medidas neutras. Mas o facto de se terem tornado no único foco de reacção pública não tem sido inocente. Governo, patronato e partidos cúmplices sabem que estas são as medidas que mais facilmente geram consenso social, e que, portanto, servem de campo de encenação perfeito: os partidos que apoiam a proposta laboral fingem indignação com o que comove, para evitar prestar contas sobre o que destrói.
No centro do palco está a discussão sobre a amamentação. Nos bastidores, passa impune o resto da reforma. É neste outro plano, mais subterrâneo, que se joga o verdadeiro reordenamento da relação capital-trabalho.
Um dos ataques mais graves é à contratação colectiva. O Governo pretende alargar a aplicação de normas menos favoráveis aos trabalhadores, mesmo quando existam convenções mais protectoras em vigor. Já muito degradado, o princípio do tratamento mais favorável – que garantia que, perante diferentes normas, valeria a mais benéfica para o trabalhador – passa a admitir ainda mais excepções. É um retrocesso jurídico e simbólico: o contrato colectivo, resultado da negociação sindical, perde valor. Pior: a proposta agrava o regime da caducidade das convenções colectivas, facilitando ainda mais a sua cessação, caso não sejam renovadas em tempo útil, empurrando os trabalhadores para a norma mínima da lei geral. Na prática, abre-se um mercado concorrencial de convenções, onde o patronato escolhe a mais barata e a que mais lhe convém. E se as melhores caducam, desaparecem também os direitos que estas asseguravam.
Para quem ainda não percebeu, é aqui – e não na conversa da partidarização ou desadequação dos sindicatos “aos novos tempos” –, que reside uma das principais razões por que os níveis de sindicalização em Portugal são tão baixos, em comparação com países do centro europeu, onde termos como “contratação colectiva” fazem parte da gíria de muitos trabalhadores. Provavelmente, em Portugal, muitos inconscientemente se questionam – para quê sindicalizar-me se não consigo sequer um acordo mínimo de empresa? Uma pergunta racional e trágica, com responsáveis bem acima dos sindicatos.
Como escrevia Ricardo Paes Mamede, no Público, “sempre que se reduz a protecção dos trabalhadores, seja qual for o impacto económico, degradam-se as condições de vida de pessoas concretas e, com frequência, transferem-se rendimentos de quem tem menos para quem tem mais, tornando a sociedade ainda mais desigual. Esta obsessão com a liberalização do mercado de trabalho envia um sinal claro aos investidores sobre o tipo de economia que queremos desenvolver.” Esta visão continua amarrada a uma economia de baixo valor acrescentado, de baixos salários, de um tecido produtivo assente em exploração de mão-de-obra precária, como no Turismo ou na Agricultura. Ou seja, a ideia equivocada, no mínimo, de que a sucessiva destruição de direitos nos trouxe uma economia de alto valor e produtividade.
Mas esta ofensiva não é nova. Durante todo o século XXI, tanto governos do PSD como do PS contribuíram, em ciclos alternados, para o desmantelamento dos direitos laborais. Em 2003, com Durão Barroso (PSD/CDS), foi aprovado o novo Código do Trabalho: caducidade das convenções colectivas, mobilidade forçada, horários estendidos. Em 2007, José Sócrates (PS) reforça a precarização com o alargamento dos contratos a termo (a flexi-segurança, lembram-se?). Em 2012–2013, Pedro Passos Coelho (PSD/CDS), sob a troika, reduz indemnizações, elimina feriados e esvazia a contratação colectiva. Em 2015, chega António Costa (PS) que se recusou a rever a legislação anterior – alguém se lembra ainda que, em 2021, caiu a “geringonça” também porque o PS se recusou a reverter as normas danosas da caducidade da contratação colectiva? O que esta breve história mostra é que não será com estes actores, mesmo que indignados hoje, que poderemos recuperar o que tínhamos no início do século XXI. E o que está agora em cima da mesa não rompe com esta linha, aprofunda-a. Como se vê, este novo ataque de contornos ultra-liberais não é um acidente, faz parte de uma longa trajectória.
O ataque à liberdade sindical é outro pilar desta reforma. A proposta prevê que, em empresas onde não haja trabalhadores sindicalizados identificados, o patrão possa bloquear o acesso do sindicato, quer à afixação de informação, quer à realização de reuniões durante o horário laboral. A perversidade é dupla: retira-se o direito com base numa ausência que é frequentemente fruto do medo ou da pressão patronal, e bloqueia-se o instrumento que permitiria contrariar essa mesma ausência. Um ciclo de invisibilização que isola o trabalhador e expulsa o sindicato do local de trabalho. Em nome de uma suposta “neutralidade” cria-se um regime de silêncio institucionalizado.
Ao mesmo tempo, a reforma aprofunda a precarização: os prazos dos contratos a termo são alargados, reabilita-se o banco de horas individual, estendem-se os contratos de muito curta duração a mais sectores, permite-se a possibilidade de recurso a outsourcing imediatamente após um despedimento colectivo, elimina-se o poder da ACT de suspender despedimentos ilegais, enfraquece-se a presunção de vínculo laboral nos casos das plataformas digitais ou falsos recibos verdes, ataca-se o direito à greve. E legaliza-se, por fim, o que antes era abuso: contratos sucessivos com pausas mínimas deixam de ser fraude e passam a norma.
Como sintetiza João Leal Amado, também no Público, esta proposta cria um novo tipo de trabalhador “precário e abdicante”, alguém que pode ser contratado a prazo para sempre e que, agora, pode até renunciar a salários ou compensações devidas. Uma legalização da chantagem. É no mínimo cómico – senão ultrajante – que este governo ultra-liberal tenha tido o desplante de dizer que este Trabalho XXI é um projecto de lei laboral que “valoriza os trabalhadores através do mérito, estimula o emprego, em especial o emprego jovem, e a capacidade de retenção do talento, e pretende dinamizar fortemente a negociação e a contratação colectiva”.
O mais notável é que nenhuma destas alterações parece levantar escândalo público entre boa parte dos partidos que dizem proteger as famílias. Nenhuma manchete denuncia que a eliminação dos vínculos estáveis ou a manipulação unilateral dos horários de trabalho afecta directamente a vida das mesmas mães e crianças que servem de pretexto para o actual teatro da indignação. O mesmo país que exige (e precisa de) mais natalidade é o que empurra pais e mães para vínculos descartáveis e horários impossíveis. A retórica do cuidado serve, neste caso, para encobrir o desprezo pelos direitos.
E é neste ponto que parte da esquerda, em particular, tem de olhar para si. O desinteresse, tantas vezes hostil, com que sectores progressistas olham para a luta dos trabalhadores tem um custo. Se no fim de um quarto de século deste trajecto é comum ouvir-se um bocejo quando se fala de “contratação colectiva”, que seja a esquerda a fazê-lo é grave. Porque foi precisamente a destruição das formas colectivas de organização que tornou possível a actual desregulação laboral. E não se trata apenas de salários ou horários, mas de presença, força, legitimidade, e capacidade de determinar os termos do senso comum. A fragilidade da esquerda começa, tantas vezes, afinal, na fragilidade do chão onde assentam aqueles que deveriam ser os “seus”.
Esta contra-reforma do Governo não é apenas laboral. É política. E é feita sob a sombra do cuidado – que serve aqui menos como princípio ético e mais como pretexto estratégico. Se não a denunciarmos como tal, ficamos a dançar como eles mandam – em vez de impor o que nós queremos.

 

Raquel Ribeiro | Contacto | 7 Agosto 2025
Partilhar
SINAPSA
SINAPSA

Publicações relacionadas

Agosto 19, 2025

O Luís contra quem trabalha (exemplos da destruição em curso)


Ler mais
Agosto 18, 2025

Pacote Laboral | Alterações ao Direito de Contratação Coletiva


Ler mais
Agosto 7, 2025

“Trabalho XXI”: roteiro para um precário abdicante


Ler mais

Porto

222 076 620

(Chamada para rede fixa nacional)
Dias úteis, entre as 10 e as 18 horas


geral@sinapsa.pt

Lisboa

218 861 024

(Chamada para rede fixa nacional)
Dias úteis, entre as 10 e as 18 horas


lisboa@sinapsa.pt

Newsletter

    Siga-nos!

    • facebook
    • instagram
    • youtube
    • whatsapp

    APP SINAPSA

    © 2022 SINAPSA. All Rights Reserved. Desenvolvido por AMEN.PT
      SINDICALIZA-TE!